Rómulo de Carvalho, com o pseudónimo António Gedeão, foi professor, pedagogo e autor de manuais escolares, historiador da ciência e da educação, divulgador científico e poeta. Natural de Lisboa, onde nasceu em 24 de Novembro de 1906, estudou no Liceu Gil Vicente e terminou o curso de Física na Universidade do Porto.
Como professor de física do ensino secundário, em Lisboa, nos liceus Camões e Pedro Nunes, e em Coimbra, no Liceu D. João III, marcou muitas gerações de alunos e atraiu-os para a física.
Nos anos 50 iniciou a publicação de uma colecção de livros de divulgação científica onde, sob a forma de interessantes histórias, referia a descoberta de importantes instrumentos científicos.Com o pseudónimo de António Gedeão publicou, em 1956, o seu primeiro livro de poesia, Movimento Perpétuo, a que se seguiram Teatro do Mundo, em 1958, e Máquina do Fogo, em 1961. Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78 / 24.
Em 1964, para comemorar o quarto centenário do nascimento de Galileu Galilei, escreveu o “Poema para Galileu”. Este poema, musicado e cantado por Manuel Freire, tal como a “Pedra Filosofal” , hino à liberdade e ao sonho, ou a “Lágrima de Preta”, hino à unidade da raça humana, espécie de manifesto anti-racista.
Após 40 anos de actividade docente, reformou-se da função pública em 1974, devido à perturbação provocada no ensino pelo 25 de Abril.
Entre 1984 e 1990 publicou Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.
Em 1990 foi nomeado director do Museu Maynense, da Academia de Ciências de Lisboa.
Em 1996, o Presidente Jorge Sampaio, atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Mérito de Santiago da Espada.
Carla Augusto
Poema para Galileo
(…)
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação
-que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo na praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
(…) Por isso estoicamente,
mansamente,
resistente a todas as torturas,
a todas as angústias,
a todos os contratempos
enquanto eles,
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.