25 novembre 2006

Rómulo de Carvalho



Rómulo de Carvalho, com o pseudónimo António Gedeão, foi professor, pedagogo e autor de manuais escolares, historiador da ciência e da educação, divulgador científico e poeta. Natural de Lisboa, onde nasceu em 24 de Novembro de 1906, estudou no Liceu Gil Vicente e terminou o curso de Física na Universidade do Porto.
Como professor de física do ensino secundário, em Lisboa, nos liceus Camões e Pedro Nunes, e em Coimbra, no Liceu D. João III, marcou muitas gerações de alunos e atraiu-os para a física.
Nos anos 50 iniciou a publicação de uma colecção de livros de divulgação científica onde, sob a forma de interessantes histórias, referia a descoberta de importantes instrumentos científicos.Com o pseudónimo de António Gedeão publicou, em 1956, o seu primeiro livro de poesia, Movimento Perpétuo, a que se seguiram Teatro do Mundo, em 1958, e Máquina do Fogo, em 1961. Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78 / 24.
Em 1964, para comemorar o quarto centenário do nascimento de Galileu Galilei, escreveu o “Poema para Galileu”. Este poema, musicado e cantado por Manuel Freire, tal como a “Pedra Filosofal” , hino à liberdade e ao sonho, ou a “Lágrima de Preta”, hino à unidade da raça humana, espécie de manifesto anti-racista.
Após 40 anos de actividade docente, reformou-se da função pública em 1974, devido à perturbação provocada no ensino pelo 25 de Abril.
Entre 1984 e 1990 publicou Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.
Em 1990 foi nomeado director do Museu Maynense, da Academia de Ciências de Lisboa.
Em 1996, o Presidente Jorge Sampaio, atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Mérito de Santiago da Espada.

Carla Augusto




Poema para Galileo
(…)
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação
-que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo na praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
(…) Por isso estoicamente,
mansamente,
resistente a todas as torturas,
a todas as angústias,
a todos os contratempos
enquanto eles,
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

4 commenti:

Anonimo ha detto...

Olá Carlinha!

António Gedeão, é um dos meus poetas preferidos. Adoro os seus poemas. Alguns fazem-me rir pela sua simplicidade e sabedoria. Recordo fins de tarde, à beira mar, a ler em voz alta os seus poemas...

Aqui fica um para recordares:


gota de água

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.

António Gedeão

bjs, amica mia! Bom fim de semana! (Dora)

Belinha ha detto...

Rómulo de Carvalho foi um professor de Física fascinante.
António Gedeão foi a sua multiplicação poética, de uma riqueza absolutamente ímpar.

Boa escolha de poema!
Porém, o que mais me toca é aquele que começa assim:
"Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida..."

HRC ha detto...

Simpatizava pouco com Gedeão. Achava piada à introdução de um pouco de Ciência, Ciência verdadeira e a sério, nos seus poemas mas pouco mais.

Um dia um mestre das letras, estrangeiro de nascimento mas português nas escritas e leituras, mostrou-me quantos sentidos mais pode ter Gedeão, e então caí "do alto inacessível" das minhas alturas para a razão directa das suas emoções.

Anonimo ha detto...

Afonso Dias, um poeta cantor e actor, sei lá que mais, companheiro de vida de sonho tudo do Zeca Afonso e de outros, esteve hoje na minha escola para dizer poesia de António Gedeão. Tem mesmo vários CDês de música e poesia, vai começar a editar (CD) uma pequena colecção de poesia dos paíes africanos de expressão portuguesa. Gosto de ouvir o Afonso, sobretudo porque nota-se que ama o que faz,a poesia, é um óptima companhia para almoçar jantar tomar café, vem de muito longe, sabe contar histórias como ninguem, poesia,os miúdos acabam por gostar dele e da forma como diz poesia. Esteve na minha escola, se não me engano, pela terceira vez.A poesia na boca de pessoas como ele adquire outras asas, sei lá,adquire algo que esteve sempre lá, mas que nós,por incapcidade, nunca tíhamos visto.
Carla, beijos.
Zém